Imperava a escuridão quase impenetrável naquela larga planície invisível. Não havia nada a ser visto ou tocado. Flutuava-se na treva, e tudo o que havia era aquela espessa, onipresente tinta negra. Seria cegueira?, ou uma venda atada à nuca?
Na distância, soava um dobre a finados.
– Estás ouvindo?, questionou uma voz num sussurro.
Os sinos continuavam seu canto triste.
– Ouço-os.
– Fora sempre assim?
E refletiu. Desde cedo, desde a mais terna infância, tocavam aqueles sinos; mesmo naquele tempo distante quando não sabia o que significavam os tons da percussão escura. Depois, com cada vez mais freqüência eles dobravam, mais intensos a cada ano.
Mais próximos.
– Sempre.
– E agora?, perguntaram as trevas.
– Agora…
“Nunca”, responderia à escuridão, quando lhe mostrariam a venda que sempre o obscurecera a vista. Mas não havia diferença entre a escuridão nascida de dentro e aquela que era imposta. Haveria?
[música: Explosions in the Sky, “What do you go home to”]