Esta é uma daquelas coisas engraçadas que correm no inconsciente coletivo: quando estamos deprimidos, escutamos sempre as músicas menos aconselháveis possíveis. Se fica triste por causa de um amor que não tem mais, você vai lá e voluntariamente toca The Scientist. Se foi trocado, logo manda uma Alanis Morissette: “could you forgive me love, if I danced in your shower?”, no melhor tom de sofrimento do mundo. A depressão vai tão fundo que até o aleatório do seu player percebe e o sabota no melhor estilo “do you wanna play a game?” calhando, naturalmente, no mais sofrido My Immortal ever.
Essa nossa “mania” – ou, como chamam, “tendência suicida” – pode parecer sem sentido, mas creio que seja bastante lógica, na verdade. Ouvir “How to save a life” quando você já se sente mal não tem nada a ver com uma desculpa pra cortar pulsos. É mais – acho – uma tentativa inconsciente de aprofundar o momento; de realmente aproveitar aquela ferida e abrir caminho pra cada vez mais fundo, cada vez mais perto da fonte de tudo aquilo que dói.
Acho que nos conhecemos muito da dor. Antes de hoje, achava que aprendíamos muito com os fins. Mas a diferença entre aprender com “o fim” e “a dor que vem dele” é sutil e significativa. A dor aponta algum lugar; indica de onde vem aquele sentimento. Ouvir música triste quando se está triste é um modo de buscar esse lugar e compreendê-lo melhor.
Hoje mais cedo, tive um momento muito meu que a minha irmã viu. Éramos ela, sem saber o que fazer, e eu, chorando copiosamente depois de algo que ela me tinha dito casualmente. E veio na cabeça, logo depois, Crystal Ball. Quando dói, penso agora, a gente se conecta muito intensamente a nossa essência. Ou melhor: quando dói, conecta-se com toda a dor do mundo.
Unidade se dá no sofrimento, e não (só) na alegria. Tanto aquela unidade íntima, pessoal, quanto aquela de toda a constelação de dores afora.